Muito se fala sobre a importância da educação, sobre a má qualidade da educação pública, sobre os salários dos professores,enfim, sobre a necessidade de se fazer algo de novo nas didáticas e nos métodos de ensino.

É bom recordar um pouco o passado para refletir sobre as circunstâncias que influenciaram de algum modo o atual estado lamentável da educação pública do País.

Comenta-se que nos anos 40, 50 e 60 o ensino público era muito bom. Será? Eram poucas escolas muito boas, outras escolas muito ruins e muita gente na idade escolar sem escola. Hoje no ensino fundamental continuam sendo poucas escolas muito boas, porém muitas escolas ruins e, ao contrário de antigamente, muita gente nas escolas, mas sem aprender nada.

Um governante chegou a dizer que na escola pública o professor finge que ensina e o aluno finge que aprende.

Por que nos anos 40, 50 e 60 o analfabetismo apresentou dados dramáticos dignos de uma praga epidêmica? Se a escola pública ensinasse a ler, escrever e contar nas quatro primeiras séries do primário não seriam tantos os analfabetos. E porque foram criados programas paralelos e investidas fábulas de recursos financeiros, sem sucesso, para reduzir os danos da praga enquanto muito pouco era investido na própria educação?

E atualmente a situação mudou? Não, infelizmente não, apenas se diz que noventa e tantos por cento dos jovens em idade escolar estão nas escolas, mas na realidade a maioria dos concluintes do ensino fundamental aprendeu muito pouco ou quase nada e uma parcela ponderável dos concluintes do ensino médio também.

Não tenho receio em afirmar que o ensino público de nível fundamental e médio tem sido importante parceiro, por omissão, da delinqüência, da falta de oportunidades de emprego, ao lado dos fracassos dos programas habitacionais, da saúde pública e do saneamento básico.

Foi e é instrumento hábil de promoção da pobreza e da miséria.

Como é triste o quadro da educação pública no Brasil e como são tristes os professores abnegados tentando ensinar a tristes alunos.

Quem pretender modificar o quadro lamentável da sociedade brasileira precisa começar pensando em modificar a educação, não como os economistas do passado com teorias do capital humano, de eficiência mensurável dos custos benefícios, do planejamento central estratégico, etc., nem como os de hoje com seus planos nacionais e estaduais que não saem das gavetas com seus dados e estatísticas. Todos são válidos, não há dúvida, dados, estatísticas, curvas e gráficos são importantes, mas o que se torna urgente reside na prioridade a ser dada aos agentes do processo aprendizagem ESCOLA,PROFESSOR E ALUNO.

É preciso reposicionar social e economicamente a figura do professor qualificando-o para missões que lhe restituam o respeito e a admiração da sociedade e proporcionem uma retribuição social compatível com suas funções.

É preciso rever as metodologias e os aparatos didáticos envelhecidos com o tempo e ultrapassados pela velocidade do progresso tecnológico de modo a oferecer a todos os alunos, sejam eles quem forem, as mesmas oportunidades. A sala de aula deve estar aparelhada para se tornar tão atraente quanto um Cyber Café ou um salão de jogos eletrônicos.

Os conhecimentos devem ser transmitidos segundo os princípios da redescoberta dos fenômenos ou pelo desenrolar de uma pesquisa ainda que hipotética, enquanto a História , a Geografia, a Sociologia e a Filosofia retratem as realidades dos acontecimentos e exemplifiquem as questões que nos envolveram no passado e nos envolvem no presente e apontem para o futuro.

Uma escola pública não pode funcionar por apenas três horas diárias pois é ridículo imaginar um processo educativo "fast food". Educar exige tempo, convivência, participação, solidariedade, ensaio e erros.

A sociedade democrática baseia-se na formação de um conjunto social heterogêneo com diversidades marcantes, em que o todo predomina sobre o individual, enquanto despoticamente a maioria prevalece.

Na educação a democracia pede respeito às diferenças individuais, ao reconhecimento das inteligências múltiplas, à uma avaliação onde predomine a negociação e não á uma mensuração superada e anacrônica.

Algumas recomendações contidas em estudo recente realizado pelo Instituto UNIBANCO podem ser alinhadas e que exigem uma competência institucional para serem adotadas na escola pública transformando objetivos em realidades. Seriam as seguintes:

- A formação inicial do professor nos cursos de licenciatura não tira proveito das possibilidades legais de uma reforma curricular e se oferecem distantes da realidade e dos problemas da aprendizagem enfrentados pela escola pública.

- A adoção de uma grade curricular comum a todas as escolas facilita a alocação dos professores, mas sacrifica as necessidades individuais dos alunos e não atende à introdução de aspectos profissionalizantes optando por currículos de menor interesse, enciclopédicos e propedêuticos.

- Os incentivos para o professor devem estar relacionados com o sucesso na sala de aula e questões como aposentadoria precoce, abonos de faltas e licenças e promoções por tempo de serviço, por exemplo, pouco tem a ver com o seu desempenho e com a aprendizagem dos alunos.

- Os salários dos professores devem ser competitivos atraindo profissionais competentes. Atualmente a carreira do professor atrai candidatos de baixo nível sócio-econômico e cultura prejudicada pela ausência de oportunidades. Faltam professores em determinadas áreas o que sugere um mercado de trabalho segmentado que demanda salários diferenciados

- A avaliação do desempenho dos professores deve estar presente podendo ter como conseqüência as promoções salariais ,prêmios,realização de cursos de extensão enquanto aos de menores resultados programas de reciclagem obrigatórios.A avaliação dos professores deve ser acompanhada da avaliação das escolas e dos alunos

- A redução do ensino noturno regular é desejável restringindo-o à Educação de Jovens e Adultos- EJA. As parecerias com empresas neste particular seriam estimulantes podendo ser adotada a metodologia de Educação a Distância com resultados qualitativos consideráveis.

- Como foi destacada, a organização curricular flexível deve estar adequada às necessidades individuais e das regiões com ênfases profissionalizantes e um mínimo de cinco horas diárias no turno diurno.

É preciso que se discuta de novo uma nova escola.

E que seja o fim da Pedagogia da Insensatez!

 

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