Não restam dúvidas que vivemos em um mundo globalizado e cheio de incertezas. Para além dos problemas políticos, econômicos e sociais, que afligem as sociedades em todo o mundo, deparamo-nos com problemas muito preocupantes para o futuro da humanidade, que são as degradações da cultura e da ética, as quais têm prevalecido nos mais diferentes setores da vida coletiva. Essas deteriorações são as origens de quase todas as mazelas sociais e políticas de uma sociedade. O elevado potencial de arruinamento das organizações está sempre relacionado ao grau de cultura de um povo, no caso, à incultura.
A perspectiva de desordem político-social é diretamente proporcional à qualidade cultural de um povo. Entretanto, o que é mais preocupante na conjuntura existencial da humanidade, reveste-se de uma ardilosa armadilha de enaltecer a tese pseudocultural de globalização, em detrimento do altivo campo cultural de um povo. A raiz de nossas patologias, que comprometem o saber e fomentam a desordem social e política, encontradas nos mais diversos âmbitos da vida coletiva, é o aniquilamento da alta cultura e da ética humana.
Estamos observando, estarrecidos, a disseminação de uma falsa cultura na sociedade brasileira, altamente massificada, superficial ao extremo que, por estar ela vinculada a meros, e em muitos casos, levianos entretenimentos, compromete a elevação do espírito humano. Vivemos robotizados num sistema social que apequena a dignidade do cidadão, cotidianamente condenados a vulgaridades televisivas e outras morbidades da mídia em geral, que estimulam os aspectos mais rasteiros e nefastos da existência humana.
A dificuldade de compreender e perceber com clareza a realidade da contemporaneidade na qual estamos inseridos faz proliferar, por absoluta falta de discernimento, lesivas ideologias e vícios recorrentes de uma subcultura medíocre, que revela a mais sórdida expressão sociopolítica, que assola o nosso povo. A abjeção da personalidade humana é definitivamente proporcional ao potencial lesivo da pseudocultura, ou melhor, da ditadura da incultura e da antiética, que não nos deixa notar o abismo existente entre a ignorância da inexatidão filosófico-cultural vigente e a verdadeira cultura. Aquela cultura que purifica a sensibilidade e a ética; que propicia uma nova concepção do mundo, aprimorando a mente e a imaginação humana na mais importante façanha de despertar o ser humano do mórbido sono do comodismo cotidiano, alargando seus horizontes e emancipando-o do infecundo imediatismo.
Exaltando-se o que de mais bizarro e grotesco existe no enfermo sistema de valores sociais do mundo contemporâneo, observa-se o desmoronamento do conjunto de ideias, aspirações, crenças e valores genuínos do ser humano. Para evitar essa tragédia humana sem sentido, faz-se mister libertar o homem da veneração à incultura e à exaltação da face sombria e sórdida do caráter existencial antiético contemporâneo, que vem devastando as instituições, as famílias e a sociedade. O soerguimento cultural para a paz e para a felicidade humana depende do resgate de valores éticos e afetivos, condutas e estratégias de bem viver, que melhor dimensionem a real capacidade da evolução do ser humano. De tal modo, pode ser possível evitar a derrocada ética e cultural humana, impedindo, destarte, a condenação das novas gerações, e aquelas que ainda estão por vir, à barbárie e à estupidez da ditadura globalizante da incultura e do comportamento aético insensato, próprios de uma atmosfera hostil à busca da perfeição e da verdade.
Da mesma forma que a ciência e a tecnologia não têm fronteiras e são parte extraordinária da solução dos problemas da humanidade, a cultura e a ética humana não deveriam ser relegadas pela comunidade científica como algo de menor importância social. Pelo contrário, a ciência e a tecnologia só se estabelecem e se desenvolvem em um ambiente cultural sadio, privilegiado por aspectos éticos indispensáveis ao desenvolvimento humano, no qual aqueles que tiveram mais oportunidades têm o dever, o compromisso moral, de semear o bem comum, tornando o mundo um lugar melhor para todos.
Deveríamos entender que, ressalvadas as características individuais, todos os indivíduos nascem com o mesmo potencial de desenvolvimento e a mesma capacidade de compreensão, contudo, as condições de vida e a conjuntura social nas quais estão inseridos fazem uma expressiva diferença. Cabe aos governos e às instituições organizadas de toda a sociedade a responsabilidade de promoverem, incentivarem e fornecerem, a qualquer custo, as condições básicas fundamentais para que todos possam ter as oportunidades de acessar educação básica, cultura, valores éticos, cidadania, ciência e tecnologia para um mundo melhor.
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