A sensação dos últimos dias foi a divulgação do “ranking” do ENEM. Em relações exaustivas, cuidadosamente examinadas, as escolas brasileiras foram classificadas entre “melhores” e “piores” de acordo com os resultados de seus alunos nesse exame.

          Ao que se sabe - e é proclamado - o ENEM não foi concebido como instrumento de avaliação de todo o trabalho educacional de uma escola, dentro das características de cada uma e de cada um dos ambientes no qual estão inseridas. Mesmo com alunos que não apresentem bons resultados nesse exame, uma escola pode ser boa e representar um estupendo avanço para muitos jovens brasileiros. O ENEM pode ser útil para muitas coisas, mas certamente não é régua e compasso para tudo.

          O que se viu como resultado foi o esmagamento das escolas públicas – com as exceções de praxe. Resultados pífios, segundo o ENEM. E de outro lado a exaltação de um grupo de escolas particulares e de algumas outras instituições que se cotejam com elas.

          De onde surgiram essas relações? Quem divulgou esses dados todos? Quem os organizou? Terão sido os jornais, em suas redações atarefadas, noite a fora, que relacionaram alunos, escolas de origem e resultados por todo país? Isso não é crível.

          Assim, cabe a pergunta: porque alguém faria esse desvio de finalidade de um exame nacional, cujo propósito não é o de classificar escolas entre melhores e piores?

          Deprimir as redes públicas de ensino? Desmotivar o magistério, cuja responsabilidade seria indeclinável? Exaltar escolas que foram consagradas por esse critério impróprio? Deprimir o alunado das escolas mal colocadas, e fazê-lo sentir-se inferiorizado?

          Ou servir-se do exame para influir na competitividade do setor privado, acirrando contrastes e manipulando o “mercado”? Ou estabelecer um novo padrão para a opinião pública acerca do que é uma boa escola?

          Os meios de comunicação servem-se do que lhes é acessível e disponibilizado para fazer notícia. É o papel deles. Se disso resultar um equívoco cabe a quem o identifica corrigi-lo.

          Mas o silêncio oficial é acachapante. Não parece razoável que a ninguém tenha ocorrido pronunciar-se acerca desses dados divulgados. Nem um comentário, nem sombra de uma versão.

          Dessa forma, ficamos todos livres para fazer nosso próprio juízo com os elementos que temos em mãos. E este juízo pode ser muito severamente crítico diante desse quadro todo. Acho até que os nossos Pioneiros não aprovariam o que se está vendo.

 

Edgar Flexa Ribeiro

Presidente