COMEÇANDO PELO TELHADO

 

Aferir o que se está fazendo em matéria de ensino é muito difícil num país do tamanho do nosso, com todas as diferenças que abrigamos. Haverá sempre algum reducionismo nos instrumentos empregados, e nos resultados encontrados.

Não se pode generalizar a partir desses resultados. Esses exames e testes têm seu valor - até certo ponto...

O problema é encontrar esse “certo ponto”, e resistir à tentação de tomar a parte pelo todo.

Um aspecto importante, por exemplo, que fica faltando: bastará medir o que os alunos estão sabendo? Para ir adiante, seria não necessário também saber como está sendo ensinado o que, e o como, se pretende deveria estar sendo aprendido?

À parte o fato já sabido de que o magistério é mal pago e pouco considerado, mas sabendo tudo que pretendemos estar sabendo, como estão sendo usados os resultados de tanta avaliação na preparação dos professores que estarão assumindo suas turmas daqui a cinco anos?

Disso não se tem notícia...

Será que esses dados todos estão sendo considerados na avaliação e na formação do magistério brasileiro? E, em caso positivo, o que se está fazendo hoje para melhorar o quadro futuro? Ou sugere-se que esses instrumentos avaliem unicamente a parte do aluno em todo o processo? Será que a evolução do quadro virá só pela avaliação do aluno? E o preparo do professor, onde fica?

Parece que não temos noção dos prazos envolvidos na educação. Se a desejamos realmente como um bem a ser colocado à disposição e a serviço de todo indivíduo, de todo e qualquer cidadão, esses prazos não podem deixar de ser levados em conta.

Indo adiante: aferindo os alunos, mesmo não aferindo o magistério, como devemos aferir desempenho das autoridades públicas envolvidas no processo ao longo desses anos? Para sermos justos, como ficamos nós todos, como fica o país nessa foto?

É claro: cada um de nós tem o maior apreço pela educação, pelo saber – como temos pela liberdade, pela justiça, pelo bem comum. Mas, como nação democrática, temos um grupo de pessoas que deveriam atuar com as mesmas idéias e objetivos nossos: ou seja, as chamadas elites: política, cultural, financeira e assim por diante.

E essas, ao que parece, “não estão nem aí”. Acreditam no que dizem as autoridades de plantão: a culpa é dos alunos que não sabem ler, não sabem matemática, não sabem isso e não sabem aquilo. A construção da casa não avança por causa do telhado, por onde estamos começando a obra.

Perdemo-nos em episódios, opiniões e decisões tópicas, sempre aguardando resultados rápidos. Em casos extremos mudamos a Lei de Diretrizes e Bases, ou fazemos mais um outro Plano Nacional de Educação. E não saímos do lugar.

Ficam deprimidos os professores, os alunos e suas famílias, e a cidadania nessa coleção de insuficiências e fracassos que se acumulam sem horizonte à vista.

Avaliar é ótimo. Mas contanto que se saiba o que fazer com o resultado. E isso ainda estamos por ver...