Momento de Decisão
Ao longo das últimas décadas, as nações vêm passando por notáveis transformações, decorrentes de novos cenários construídos a partir da passagem da sociedade industrial para a sociedade do conhecimento, da crescente globalização, dos tratados de livre comércio e dos acelerados avanços da ciência e da técnica. A atual conjuntura global impõe uma relação diferenciada entre países, gera nova concepção da indústria, preocupação efetiva com o meio ambiente e compromisso com a eliminação da pobreza e das disparidades regionais e espaciais. Dessa forma, o crescimento sustentável das nações passou a ser uma das prioridades da agenda do século XXI.
A agenda da sustentabilidade não se preocupa apenas com a preservação do meio ambiente, no sentido estrito, e passa a tratar também da geração do emprego e renda e, consequentemente, da necessidade urgente de oferecermos nova educação, capaz de formar cidadãos para esta sociedade do conhecimento. Nela, as culturas do empreendedorismo e da educação continuada serão determinantes para a ocupação dos postos de trabalho que vêm sendo oferecidos pelas profissões que surgem, em conseqüência dos avanços da ciência e da técnica, e para o incremento da competitividade das nações, agora fundamentada nos alicerces do conhecimento, da inovação e do empreendedorismo.
No caso brasileiro, o inegável progresso verificado ao longo das últimas duas décadas possibilitou que nos tornássemos a sexta economia do mundo, com uma indústria cada vez mais pujante, a diminuição crescente das desigualdades sociais e com um notável incremento da oferta de novos postos de trabalho. Na educação, entretanto, que é parte indispensável do processo de crescimento sustentável, estamos sendo incapazes de oferecer as respostas que a sociedade espera e necessita. Os grandes projetos de energia, infra-estrutura e agricultura saem das pranchetas e acabam por ser paralisados, muitas vezes em decorrência do “apagão” de mão de obra que acaba por resultar na “importação” de quadros técnicos. Muitas das metas estabelecidas pelos governos, pela indústria, pela agricultura e pelo setor de comércio e serviços deixam de ser cumpridas.
Os índices de evasão no ensino médio e nas carreiras técnicas são elevadíssimos, com profundos reflexos sobre uma geração inteira, que passa ao largo das novas oportunidades surgidas pelo progresso. Nos cursos de engenharia tais índices chegam a ultrapassar os 40%, fruto de uma má formação nas disciplinas de ciências e da natureza, no ensino médio. No ensino médio, eles são igualmente alarmantes. A crônica falta de professores de física e de matemática, por exemplo, contribui fortemente para isso.
Dessa forma, vem sendo cada vez mais importante reformular as estruturas curriculares na educação básica, no ensino fundamental e no ensino médio. É imprescindível que a educação nestes níveis tenha objetivos mais realistas, uma vez que até agora está descolada de uma preparação profissional mais adequada e voltada quase que exclusivamente à preparação para a universidade, que a maioria não vai cursar. É ainda indispensável adequar o ensino profissionalizante às novas demandas das empresas; e, no caso da educação superior, oferecer novas modalidades de diplomas e ampliar a aproximação entre universidades e empresas, para que estas possam agregar valor aos produtos daquelas, sempre respeitando os paradigmas da sustentabilidade.
Este é um grave momento de decisão para a nossa sociedade. Se não soubermos responder aos desafios, incentivar uma educação moderna e compatível com a sociedade do conhecimento, articulada com a ciência e a tecnologia e comprometida com o crescimento sustentável, terão ido por terra todos os esforços realizados ao longo desta duas décadas.
Por isso, torna-se imperioso apoiar efetivamente, a reformulação de nossas políticas públicas na educação, na cultura, na ciência, na tecnologia e na inovação, destinando recursos em quantidade suficiente para que as mudanças sejam operadas, no prazo mais curto possível. Na época em que se discute a aplicação dos royalties do petróleo, parece-nos sábia a decisão de aplicá-los majoritariamente nestes setores.
Nosso Estado tem um plano estratégico que busca identificá-lo por três segmentos-âncora: o Petróleo e o Gás, o Turismo e a Indústria do Conhecimento. Os dois primeiros são evidentes, pois movimentam parte significativa do produto interno bruto do nosso Estado. O último é conseqüência de alguns fatos importantes: o Estado conta hoje com 19 universidades e 26 institutos de pesquisa, e detém uma parcela expressiva da produção científica nacional. Além disso, funcionam hoje no Rio de Janeiro 18 incubadoras de empresas e 5 parques tecnológicos, todos em fase de acelerado crescimento.
A partir das metas estabelecidas para o Estado, poderemos, com relativa facilidade, definir como a educação poderá exercer a sua missão transformadora numa sociedade em rápido processo de desenvolvimento, influenciada pelo Plano de Aceleração do Crescimento (PAC), pelos programas de recuperação e pacificação de comunidades carentes, e pelos grandes eventos programados para esta década, dos quais a Copa do Mundo, em 2014, e as Olimpíadas, em 2016, se destacam.
Os maiores legados destes eventos deverão ser a melhoria da qualidade de vida, a inclusão social de elevados contingentes de nossa população e a sua preparação para a ocupação dos inúmeros postos de trabalho que surgirão nos próximos anos, bem como do incremento da competitividade de nossas empresas.
A nossa Associação Brasileira de Educação- ABE, ao engajar-se no Fórum do Desenvolvimento Estratégico do Rio de Janeiro, vinculado à Assembléia Legislativa, tornou-se parceira decisiva para tal empreitada. Por iniciativa da ABE, foi lançada, em dezembro de 2012, a Carta Compromisso com a Educação no Rio de Janeiro, assinada pelas organizações acadêmicas e empresariais, pelos governos do Estado e dos municípios. Outras iniciativas igualmente importantes começam a surgir. Assim, instalou-se recentemente na Cidade do Rio de Janeiro o Centro Regional de Expertise em Educação para o Desenvolvimento Sustentável, ligado à Universidade das Nações Unidas e apoiado pela Rede de Tecnologia do Rio de Janeiro.
Todas essas organizações podem atuar como centros irradiadores de propostas inovadoras em educação para o desenvolvimento sustentável, estimulando a elaboração de novos projetos e participando diretamente em programas que contribuam para utilização das tecnologias de informação e comunicação no ensino médio e no ensino técnico. Poderão contribuir também para a formação de lideres cidadãos em comunidades carentes, para a capacitação de jovens empreendedores, para a identificação de novas oportunidades para a geração de emprego e renda, e para a elaboração de estruturas curriculares que atendam aos requisitos impostos pela Sociedade do Conhecimento.
Esta árdua tarefa somente será cumprida com a parceria indispensável dos governos e com o aporte necessário de recursos. A nossa decisão definirá o futuro de novas gerações. Este é, portanto, um momento único da nossa história.