Educação a distância: ré?
A Educação a Distância, no Brasil, tem sido vítima de um duradouro preconceito, talvez por ter tido um passado sem legalidade formal, um passado de “estudo por correspondência”, o que é quase um pejorativo (É aquela tal história de “o passado me condena”...).
Mas, embora sem certificação legalizada, não se podia dizer que sua marca fosse a da “picaretagem”. Não me lembro de, naqueles velhos tempos, haver esse pecha como destaque. Os cursos eram livres, sim, mas libertinos, não!
Eis que, a partir de dezembro de 1996, com o advento da nova Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, a Educação a Distância, pela primeira vez, no Brasil, é, por lei, institucionalizada.
Agora, vejam o paradoxo: exatamente quando se tornou uma figura legal, a Educação a Distância passa a ser vítima de algumas espertezas. Servindo-se da Lei, pseudo-educadores obtêm autorização dos órgãos competentes e, uma vez legalizados, promovem cursos que não se cursa, apostilas que, vendidas, prescindem de estudo e diplomas expedidos com a capa de legalidade malandra. É o transplante da pirataria para a educação. Espertalhões que se servem da chancela da lei para carimbar certificados. Vendem-nos para consumidores à caça de um papel legalizado de “conclusão” do Ensino Médio, seja para poderem se submeter a processos seletivos de curso superiores, seja para tentarem ingressar no mercado de trabalho. O resultado, obviamente não poderia ser outro: aumento do preconceito e acirramento da burocracia para a autorização de cursos e programas a distância.
Mais do que beneficiários finais de um mecanismo fraudulento que resulta em uma certificação legalmente válida em sua forma, mas falsa em seu conteúdo, esses “diplomados” de mentira são, na verdade, como os consumidores de drogas: permanecem com seus interiores vazios, mas enchem os bolsos dos vendedores de ilusões.
A esses, entendemos, deve-se estender a ação punitiva do Estado com o mesmo peso e dureza aplicados aos demais agentes de tais desmandos.
E, assim, vê-se, na Educação Básica, generalizar-se o julgamento preconceituoso de uma metodologia feita, “sob medida”, para um país de dimensões continentais como o nosso, com uma população, ora rarefeita em regiões ermas, ora densamente urbanizada cujos habitantes não têm o tempo exigido por um ensino presencial com prazos rígidos, locais fixos e frequência obrigatória.
E o curioso é a valorização do ensino presencial como o único a merecer fé. Ora, há 500 anos, o que se pratica em nosso Pindorama – desde os pioneiros jesuítas – é, nada mais, nada menos, do que o ensino presencial. E o que, educacionalmente, ele produziu? Darcy Ribeiro responde: “um dos piores sistemas educacionais do mundo”. Então, o “defeito de fabricação” não está na metodologia – presencial ou a distância – está é na falta de qualidade que pode ocorrer tanto em uma situação como na outra.
É preciso, pois, não cometer o pecado judicante dessa generalização: todo ensino presencial é confiável e todo ensino a distância é suspeito. É falso! Isto não passa de um condenável maniqueísmo. Não existe, no caso, monopólio de excelência. Há cursos de Educação a Distância, na Educação Básica, comprovadamente superiores a muitos cursos presenciais. O que se impõe, pois, é separar o joio do trigo e não crucificar a Educação a Distância.
Embora os desmandos mencionados circunscrevam-se quase que exclusivamente à Educação de Jovens e Adultos é necessário que se conheça o que vem sendo desenvolvido com competência e seriedade na educação a distância em diversas áreas e por diversas Instituições, tanto no país quanto fora dele São experiências consolidadas, embora, lamentavelmente, pouco divulgadas. E aqui vai uma oportuna sugestão para a nossa imprensa, tão pródiga na cáustica crítica ao padrão da educação brasileira (no que ela está absolutamente certa), mas tão ausente na divulgação desses exemplos exitosos de Educação a Distância (no que ela está absolutamente omissa).
É preciso – e até inadiável – que se levante o nosso “astral educacional”, levando ao conhecimento da sociedade brasileira o que, neste país de “macunaímas”..., se faz, na área da Educação a Distância.
É surpreendente!
Que se resgate essa metodologia tão injustiçada. Ela merece a redenção!