A propósito do asteroide que, há poucos dias, “raspou” na Terra e do meteorito que caiu na Russia levaram-me à meditação que se segue.

Na hierarquia das prioridades, o que é mais importante sob o aspecto humano: dar à população da Terra o que ela necessita para viver com dignidade ou explorar os céus à busca de desvendar mistérios astronômicos?

Decifrar os “enigmas celestiais” deve se sobrepor à saúde, à educação e à moradia de que, aos milhões, são tão carentes os seres terrestres?

Deite-se o leitor em um sofá de sua casa para meditar pausada e seletivamente e ruminar conscientemente. Passados alguns minutos, um clarão, no seu cérebro, desperta-lo-á para o “ovo de Colombo”... de que, há séculos, a vida do próximo não é a preocupação que mais nos aflige: tanto do governante como do cidadão.

Sei que isso é o óbvio, mas o perigo milenar é que, nem sempre, o óbvio é conscientizado e, quando o é, nem sempre é executado.

Ir à Lua ou a Marte, lançar sondas milionárias, glorificar astronautas como heróis e não consagrar médicos que curam e professores que educam, é, lamentavelmente, confirmar a frase do lúcido Professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro, Daniel Justi, em entrevista na televisão que, em 2012, ouvi com minha mulher: “A MENSAGEM DE CRISTO MORREU COM ELE NA CRUZ”.

Em outras palavras: ao mundo astronômico  - o céu...; ao mundo terráqueo - o inferno!...

É incontestável que se impõe a reversão de nossas hierarquias. Usando uma metáfora de cunho jurídico, não digo que estamos cometendo um crime doloso (intenção de matar), mas sim culposo (cometido sem o “animus necandi”). E por quê? Porque não nos damos conta (dai a culpa e não o dolo) de que as fortunas gastas no espaço sideral seriam muito mais bem-vindas para atender - e muito! - às mais básicas necessidades terrenas.

A tais cifrões estrastosféricos, some-se os bilhões de dólares que, em armamentos, os homens, sem cessar, não param de gastar para matar.

E a outra parcela desta desumana soma é a atualíssima olímpica “farra” financeira, feita, sem qualquer pudor em estádios brasileiros, para acolher o esporte enquanto milhões de seres humanos, Brasil a dentro e mundo a fora, têm sequer rede de esgotos que higienizariam lares, hospitais sem intermináveis filas (alguns, nelas, esperando a vida, até alcançam a morte) e escolas que educam com professores de menos e alunos demais.

A propósito, vejam o que O GLOBO publicou, no dia 28 de janeiro de 2012 (Caderno de Esportes, página 06), referentes às citadas reformas em nossos estádios: Maracanã - 882 milhões, Mineirão - 695 milhões, Itaquerão - 695 milhões, Beira Rio - 330 milhões, Fonte Nova - 591 milhões, Arena da Baixada - 234 milhões, Arena Pernambuco - 500 milhões, Arena das Dunas - 417 milhões e Arena Pantanal - 518 milhões.

Acrescente-se a este escárnio esportivo, a orgia cearense do governador Cid Gomes pagando ao tenor Plácido Domingos um cachê de R$3.100.000,00 para a inauguração de um centro de convenções e outro de R$650.000,00 para a cantora Ivete Sangalo inaugurar o Hospital Regional Euclides Ferreira Gomes na cidade do Crato (O GLOBO de 12-02-13, pág. 12 - Calma de Elio Gaspari).

E ai me deu uma vontade danada de evocar o Castro Alves de “Vozes d’África”:

Deus, oh Deus

Onde estás que não respondes?

Há dois mil anos te mandei meu grito

Que debalde, desde então, corre o infinito!

Deu, oh Deus

Onde estás que não respondes?

 

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