Inevitável, em certo momento da vida, em se revisitando cada um o seu passado, não relembrar o que lhe deixaram de lembrança, mais forte ou nenhuma lembrança, as pessoas que cruzaram seu caminho profissional, amoroso ou afetivo. Se bem que os três sejam dissociáveis, já que o ser humano não está estruturado em pedaços coloridos como um pachwork, mas sim como um ser inteiro e completo.
Mas há cores que, sendo mais firmes e demorando a desbotar facilmente, por serem mais fortes e mais alegres, se sobressaem sobre as outras, nesse trabalho de recorte e colagem que o cérebro (ou alma) produz automaticamente, sem a interveniência direta de cada ser humano.
Sua disposição não é completamente aleatória sendo relativamente determinada em conformidade com o momento de vida e o estado de espírito predominante em cada instante.
Divertindo-me com o processo e com as reflexões decorrentes, passeei pela vida profissional de amigos professores, tentando achar a potência e a durabilidade das cores que a cercaram e seus efeitos.
A pouca competência que talvez hajam apresentado pareceu ter sido útil e admirável a várias interfaces e vetores de sua vida comunitária: chefias, educadores, colegas professores, eventualmente comandados e orientados, alunos e outras figuras componentes de comunidades escolares e educativas. Procuro onde houve melhor ou pior acolhida de seus trabalhos e vou me surpreendendo com minhas conclusões
É claro que em se tratando de sala de aula, sua melhor aceitação foi encontrada entre os alunos que sabem expressar, sem costuras intermediárias, sem grafites ininteligíveis, sua satisfação diante de um trabalho que eles sentiram esforçado, a eles dedicado e efetivo, e que lhes tenham produzido frutos com relação ao conhecimento.
Uma grande vitória surge nesse estágio diante dos olhos de todos, enchendo-lhes o coração e a mente de alegrias que não são dali arrancadas de forma alguma.
Compreende-se que a interferência de estranhos às áreas trabalhadas é uma tentativa malograda de insucesso.
Mas se alargamos nosso campo de observação, expandem-se também as chances de experiências negativas, porque o homem adulto lamentavelmente é mais imperfeito que a criança. A seu caráter acham-se já incorporados os resultados de suas próprias experiências, nem sempre vitoriosas, que o tornam menos compreensivos ou mais críticos. A não análise imparcial e indulgente do trabalho do outro provoca, com certeza, um maior reforço de aspectos negativos sobre os favoráveis. A memória faz-lhe esquecer tudo de bom, real, e verdadeiro que lhe foi atribuído com extrema dedicação.
Dessa pequena confusão mental surgida sente-se que afloram sentimentos menores que em nada enobrecem pessoas, nem a que julga, nem aquela a quem se pretende definir.
A isenção de espírito prejudica-se ainda mais com a sombra obscura do desejo de terem tido os mesmos sucessos do outro, fazendo nascer, agora com clareza, uma certa desconsideração e desrespeito com relação a grupos que se desviaram em seus caminhos, separando-se na vida real.
Lamentavelmente, esta é uma característica recorrente daqueles que se dedicam ao magistério. Não são bons julgadores dos colegas. E se estes se afastam de seu convívio por motivos que só a eles interessam, percebe-se uma forte predisposição a isolá-los, a desconsiderá-los como colegas de um trabalho conjunto que fizeram, anteriormente engajados que estavam num mesmo ideal.
A troca de experiências, os diálogos, o debate e discussões sobre temas importantes que permeiam nossa sociedade, em geral cessam.
Aquele que deixou de frequentar ambientes escolares ou do próprio sistema, parece servir de mais nada. Torna-se produtivo colocá-los no ostracismo para seu brilho de outrora não ofusque os que no presente e no futuro queiram ver suas estrelas brilharem mais intensamente e mais alto.
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