O século 19, foi um período de intensos debates em torno da organização de um sistema público de ensino, sobretudo na Europa, com repercussões no cenário brasileiro. A educação fora considerada como instrumento estratégico de modernização para enfrentar o que se apontava como sendo "as forças conservadoras", ditas como entraves para o encaminhamento de um projeto de tal natureza. Tendo como eixo a ordenação de um poder nacional de exaltação dos ideais de progresso, não renunciava às liberdades. Neste contexto, caberia à educação a tarefa de auxiliar na formação dos hábitos, das mentes, do caráter, dos padrões morais e intelectuais.

Nas palavras de Augusto Comte, fundador do Positivismo, "havia necessidade de substituir nossa educação europeia, ainda essencialmente teológica, metafísica e literária, por uma educação positiva, conforme ao espírito da nossa época e adaptada às necessidades da civilização moderna". Para Comte, só a educação poderia garantir a estabilidade social e política, aliviando os efeitos das desigualdades sociais e econômicas.

No final do século 19 e no início do século 20, as "reformas" surgiriam com as pesquisas pedagógicas da Escola Nova de Dewey, de Maria Montessori, de Pestalozzi, de Carlyle, de Kerschensteiner e tantos outros, que buscavam alterar a lógica do que denominavam de "Pedagogia Tradicional".

Que poder de sedução exerceu a educação para que tantos filósofos e pensadores dedicassem anos intermináveis de suas vidas para pesquisarem novas formas de levar aos jovens uma proposta criativa e factível para uma época de transformações profundas das famílias e da própria sociedade?

Até mesmo os grandes conflitos como a Primeira e a Segunda Grandes Guerras, destruidoras das cidades, dos costumes e da liberdade, não conseguiram, no entanto, atingir os que de algum modo acreditavam na educação como instrumento efetivo de reformas.

No Brasil, também foi um período de muitas reflexões pelos idos de 1922, no pensamento de Anísio Teixeira, Francisco Campos, Fernando de Azevedo, Afrânio Peixoto, Roquete Pinto, Julio de Mesquita Filho, Cecília Meirelles integrantes com outros educadores e pedagogos do Manifesto dos Pioneiros da Educação, que afinal deu origem à Associação Brasileira de Educação completando em 2010, seus 86 anos de existência produtiva e fértil.

Foram idéias avançadas que gradativamente transformavam-se em inúmeros ditames legais, como as leis 4024/1961, 5692/1971 e, mais recentemente, a LDB 9394/1996, porém, ainda assim, sem resultados concretos mais contundentes.

A educação brasileira perdeu-se nas sombras de um processo de desenvolvimento calçado pelo pensamento monetarista da economia, de visões imediatistas e inconseqüentes para o progresso social do país.

Darcy Ribeiro e Paulo Freire derradeiros filósofos da educação desgastaram-se em conversas com surdos e em projetos sem desdobramentos por falta de apoio executivo.

Os resultados são conhecidos e nos dias atuais conduzem a um Ensino Fundamental que sequer alfabetiza, um Ensino Médio sem objetivo e um Ensino Superior que precisa de cotas e de privilégios de pobreza e de raças para viabilizar a matrícula de menos de 20% dos concluintes do Ensino Médio, em cursos de graduação, muitos de qualidade discutível.

Que novos caminhos precisa a educação brasileira?

Um Ensino Fundamental que seja fundamental, que garanta uma alfabetização completa nas quatro primeiras séries, habilidade de escrita e de cálculos simples, com pelo menos 6 horas de carga horária diária, professores com remuneração que atraia jovens preparados em bons cursos de Licenciatura (raros cursos), "escolas de risco" com tratamento diferenciado como por exemplo dois professores e dois estagiários por turma de 40 alunos, tempo para educação física e cultura(artes e letras), alimentação balanceada, apoio familiar. Que as séries finais conduzam a integralidade dos seus concluintes ao conhecimento básico indispensável ao prosseguimento dos estudos com qualidade de aproveitamento.

Um Ensino Médio de horário integral, que seja baseado em competências (conhecimentos, atitudes e habilidades) para formar cidadãos úteis, conhecedores do seu idioma, dos temas prioritários do processo de desenvolvimento (meio ambiente, saneamento, economia e habitação), das questões sociais, geografia e história como meios de aquisição de cultura, informática e internet como instrumentos efetivos de informação e conhecimento, matemática como conhecimento aplicado às soluções do cotidiano, enfim um ensino mais do que fundamental ou médio, melhor definindo um Ensino Estratégico que favoreça a inserção no trabalho com iniciativa e competência.

Vencidas as etapas da Educação Básica seria desejável uma formação técnica concomitante quando possível, e subsequente quando necessária,competente e adequada aos movimentos da ciência com qualidade compatível com as demandas de um mercado de trabalho exigente e em consonância com vocações sedimentadas em pelo menos 17 anos de vida e 13 de estudos.

O Ensino Superior com suas vertentes humanistas e tecnológicas, reservado aos que como fruto de sua excelente formação avaliada ao longo do processo educacional a que se submeteram e das suas aspirações, e que poderão vir a se constituir, no futuro, nos integrantes dos cursos de pós-graduação de mestrado e doutorado das instituições públicas formando um elenco de docentes e pesquisadores de expressão acadêmica invejável e das instituições privadas nas áreas não abrangidas pelas públicas, com a mesma qualidade e segundo autorizações dos órgãos superiores da educação.

Enfim a Educação merece uma reflexão positiva.

 

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