MAIS UM

 

E vem aí mais um ENEM. Como os anúncios não nos permitem esquecer, é muito mais que um exame, é muito mais que uma avaliação global do ensino médio. O ENEM é o “passaporte” para o futuro.

É meio de acesso a um lote de vantagens e de ganhos. Conduz ao ensino superior, em muitos casos dispensando o “vestibular”, e abre a porta a um sem número de vantagens adicionais, financiamento de estudos e outros berloques.

As seduções são muitas, e a publicidade abundante. As escolas de nível médio sabem o que fazer: do Oiapoque ao Chuí, todas entendem sua tarefa: preparar os alunos do ensino médio a se sair bem nesse exame, nesse único exame indiscriminadamente aplicado a todos.

Dirão: mas não foi sempre assim? No tempo dos vestibulares, o que se fazia não era isso? Era, mas havia uma importante diferença: eram muitos, vários, inúmeros exames. O que era pedido em cada um variava, de curso para curso, de escola para escola. Mesmo depois de “unificado”, ao menos variava de estado para estado. Podia ser unificado, mas não era massificado.

Não é mais assim: em todo território nacional, todo e qualquer jovem brasileiro que queira se considerar bem preparado tem que responder bem às perguntas de um único exame, feito por um único órgão, que o corrige. Em resumo, todo jovem brasileiro está sendo seduzido e convencido de que só será bem preparado se responder à pergunta que o MEC faz do jeito que o MEC quer.

A isso se resume a educação que se pratica. Num país de dimensões continentais, de grandes diferenças, uma única fôrma tem que servir a todos. Preferências, talentos, vocações, nada importa: todos são submetidos a uma única aferição.

Numa sapataria, seria o equivalente a só existir um tamanho de sapato para todo e qualquer pé.

E o que é oferecido aos que não fazem o ENEM? Ou tudo se resume ao ENEM e depois a universidade? Não há notícia, nem anúncio, nem sugestão acerca disso.

Mas o Brasil é muito mais do que pensam em Brasília. E, para crescer, a educação tem que ser muito mais do que o MEC está sendo capaz de oferecer.

Como aconteceu com o transporte, quando os serviços públicos oficiais não correspondem ao que o país precisa, o país encontra sozinho a solução que lhe convém melhor, e inventa a “van”, a “perua”.

O Brasil vai se educar sim, não por escolha, e nem por imposição de ninguém, muito menos do MEC. Vai se educar porque seu crescimento exige isso.

Já há sinais: vem aí a “van” do ensino.