Não tinha acesso à escola pura e simplesmente porque não precisava dela. Estava na “roça”, nascendo, crescendo, casando, tendo filhos, trabalhando e vivendo tão bem quanto podia. Claro, já deveria estar sendo escolarizada – mas não foi, até por isso não ser necessário nas circunstâncias, e porque a elite brasileira não imaginava que lhe coubesse essa preocupação.

O Brasil enfrenta há pouco mais de 60 anos vários fatores entrelaçados, com conseqüências: o desenvolvimento industrial, a urbanização de uma enorme parte da população rural, a expansão desordenada das cidades.

O aluno que hoje abandona a escola antes do fim do curso, que é reprovado sem parar, as distorções entre série e idade, o baixo rendimento, as estatísticas desfavoráveis quando resolvemos nos comparar à Finlândia ou Coréia do Sul, as continhas deprimentes que nos deixam mal e queixosos, tem uma razão de ser que precisa ser compreendida e considerada. Até como ajuda para se ir em frente...

O fato é que não estamos levando em conta os prazos que a educação exige entre a semeadura e a colheita. Este se mede por gerações.

Esse aluno de hoje, reprovado, que se evade, que não aprende, que não se alfabetiza adequadamente, tem ou teve provavelmente algum avo ou avó que nunca foi à escola. Seus pais podem ou não ter estudado, dependendo de onde estivessem vivendo na década de 60. E grande parte em famílias que recentemente tinham chegado à cidade para viver em morros ou periferias.

Ele não tem, como não tiveram seus pais, apoio algum fora da escola. E, diga-se de passagem, de uma escola que não foi concebida para ele, para sua condição, para os recursos de que dispunha fora da sala de aula, para suas necessidades. Era uma escola que se havia desenvolvido para uma outra população, alfabetizada, com outros meios e outro ambiente.

Essa parcela das crianças e jovens, numerosa, carece de escolas, currículos, processos e de professores muito mais próximos delas e de suas necessidades. E de objetivos claros, que estejam a seu alcance .

A escola que temos pode e deve melhorar muito. Mas tem que ser respeitada, amada, valorizada como ela é hoje. É o que o país conseguiu fazer, com os professores que formou, com os recursos que aplicou. E só pela escola é que se melhora a educação. Não é nos gabinetes.

E não adianta cobrar resultados rápidos. A ABE sabe disso: conquistas sólidas demoram na educação, e o tempo tem que ser um aliado.