Educação para o bem viver

Ao falarmos em educação, vem-nos a mente o papel das instituições de ensino, corpo docente, corpo discente, tecnologia educacional, material didático etc.

A educação, em verdade, abrange muito mais do que a escola pode oferecer. A mesma começa, efetivamente, no sistema familiar como um todo, envolvendo o comportamento e os costumes adotados que são transmitidos dos genitores para os filhos: um modo de viver.

Não é incomum encontrarmos indivíduos que, a despeito de carecerem de formação educacional formal e sem frequentar ambiente escolar, apresentam valores éticos e conhecimentos objetivos muito mais socialmente efetivos do que outros que frequentaram instituições escolares. Isso não significa dizer que a escola não seja importante para a formação do indivíduo, mas que ela não pode ser responsável sozinha pela complexa educação do ser humano.

A educação é um processo de humanização que se dá ao longo do tempo de vida do indivíduo. A educação não acontece apenas no ambiente escolar, mas, também, em família. Entretanto, ninguém deve negligenciar o ensino formal promovido por instituições de ensino regular, não obstante a realidade de que todas as pessoas, de uma maneira ou de outra, aprendem, concomitantemente, com a família e são educados, consoante as suas tradições e costumes.

Atualmente, tanto na educação familiar quanto na formação escolar, há uma forte apreensão a respeito de conteúdos, práticas, métodos, recursos tecnológicos e outros, em detrimento de uma reflexão mais aprofundada acerca do que é fundamental no processo educacional. É óbvio que seria insensato ignorarmos a magnitude dos processos de acesso ao conhecimento e a velocidade das informações na era da globalização. Esse novo tempo é desafiador, tanto para a família quanto para a escola, no que tange a missão de educar o indivíduo para a vida.

Nesse contexto, tudo necessita ser repensado e constantemente avaliado a partir do compromisso com o que é fundamental para a educação: o significado de educar. Nesse sentido, pais e educadores devem formar unidade coesa e de saudável cumplicidade, visando o escopo de educar para a vida. Não é o bastante educar apenas para a liberdade e para o sucesso profissional, sobretudo para a solidariedade e para a igualdade, contemplando, também, o outro.

Por mais competitivo e impessoal que seja o modus vivendi do homem contemporâneo, a vida em sociedade deveria impor condutas e valores que transcendessem a lida pela sobrevivência. Despertar sentimentos e condutas socialmente éticas e afetivas leva ao aprendizado de tomada de decisões em função de prioridades essencialmente sociais. Dessa forma, existe uma forte simbiose do comportamento social com a educação formal do indivíduo.

A vida sem limites, sem afetividade e sem princípios morais não está afeta apenas às pessoas que carecem de educação escolar, muitas vezes, também, àquelas que a família não soube educar, em que pese estarem inseridas na conjuntura educacional formal. A família não deveria, destarte, transferir responsabilidades educacionais elementares para a escola e, consequentemente, para a sociedade. A justificativa de falta de tempo para educar as suas crianças é, flagrantemente, indesculpável, pois se trata de uma imprudência que renderá muitas infelicidades, porquanto os filhos terminam por seguir o exemplo dos pais, seja esse exemplo bom ou ruim.

Ao refletirmos sobre a legislação educacional brasileira, especialmente quando preceitua que a educação é um direito de todos e será dada no lar e na escola, e que cabe à família escolher o gênero de educação que deve dar a seus filhos, permitimo-nos questionar os rumos das políticas educacionais vigentes no sentido de acatar a referida legislação. Não é crível que possa ser assegurada uma educação para o bem viver sem uma profunda transformação nos valores éticos e afetivos que possam levar o ser humano à realização de suas potencialidades existenciais que lhe são inerentes em um processo contínuo que vai do seu nascimento até à sua morte.