Hora de Aprender

 

Há momentos em que os fatos nos impõem a urgente necessidade de extrair deles lições, que muitas vezes nos confrontam com coisas novas.

Os recentes movimentos populares que estão ocorrendo em todo o país são o somatório de muitos aspectos do nosso cotidiano que estavam escapando à nossa atenção – nossa quer dizer de nós todos, todos mesmo.

São muitos aspectos, são muitas “novidades”. Não se pode pretender vê-las todas, mas algumas chamam particularmente a atenção.

Uma delas é que ninguém mais é reconhecido como representante do povo. O povo de repente foi às ruas, e rejeitou todos os que  –  em tese  - o deveriam estar representando.

Os manifestantes expressamente recusaram qualquer participação de partidos políticos, organizações ou instituições de classe ou segmento social, e nenhuma liderança pessoal teve espaço para se insinuar ou sobressair.

Só isso já pode querer dizer muito...

Havia uma “classe dirigente” que, segundo múltiplos interesses, ocupava e exercia o “poder”.  Ferozmente disputado, o poder ia de mão em mão, de segmento a segmento, exercido alternadamente por grupos e indivíduos que se revezavam no poder. Tudo nos termos da Constituição e das  leis, por eleições periódicas ou outros processos nelas definidos .

Pois essa  “classe dirigente” também não percebia, não percebeu e talvez não esteja percebendo ainda o que estava se formando e está se passando.

O povo em massa foi às ruas dizer o que queria. Começou com o preço das passagens, e muito cedo alargou sua pauta para campo bem mais amplo. Por exemplo, que prefere mais verbas para a educação e para a saúde do que novos estádios de futebol para a copa do mundo.

Muito, muito mais do que apenas reclamar do preço das passagens, estão dizendo que não reconhecem como suas as prioridades que lhe são impostas. Estão recusando claramente processos, comportamentos, atitudes e métodos.

A história está cheia de momentos em que tudo mudou na vida de um povo ou de um país  -- geralmente em um conflito, uma revolução ou guerra civil.

Pois nessas manifestações o que se viu foi uma expressa renúncia à violência. Houve sim atos de vandalismo, que tiveram esmagadora rejeição e ficaram limitados a grupos minoritários e a episódios isolados.

As chamadas “redes sociais”, pela internet, divulgam fatos, propagam ideias e propostas, arregimentam, congregam e permitem que as pessoas  se organizem, dispensando intermediários ou outros instrumentos. Nem a imprensa – jornal, rádio, televisão – soube, previu ou participou.

Aquela ideia de “o povo” talvez esteja ultrapassada. Talvez não haja mais um “o povo” em nome do qual se falaria, em nome do qual se exerceria o poder. Pelo jeito, talvez o que exista mesmo hoje em dia sejam “as pessoas”... Mais ou menos como em uma sala de aula: não existe propriamente “os alunos” , o que o professor tem em mãos é uma lista de chamada.

E isso é uma novidade.