Quando um poder público necessita de Copa do Mundo e de Jogos Olímpicos como motivadores para propiciar melhores condições de vida à população, francamente, não se lhe pode, em termos de civismo e de cidadania, dar-lhe nota 10!

É réu confesso: para quem vem de fora - tudo; para quem aqui vive - pouco; para os forasteiros - o melhor e já; para os nativos - o ruim a vista e o ótimo a prazo.

Então, eu preciso sediar competições esportivas para dar ao contribuinte o que eie -mesmo tributariamente extorquido - até hoje não tem?

Será que já fizemos este tipo de reflexão ou abstraímos tão importante detalhe ético: o povo pode esperar, o atleta "gringo" e seus torcedores, não!

Essa postura não pode passar despercebida. Não pode mesmo! Ou devemos nos conformar em ser, sempre, mera choldra?

         A Copa do Mundo vem aí e as Olimpíadas também. E, junto, um mundo de benfeitorias: extensão do metro, segurança máxima, trânsito fluente, ruas pavimentadas, milionárias reformas de instalações esportivas e um grande "esforço olímpico" para que se corresponda às expectativas... dos visitantes...

Lembro-me bem da ECO 92, quando nossa capital recebeu cerca de 150 Chefes de Governo e de Estado: tanques nas ruas, vias limpas, metralhadoras em viaturas e tropas "por atacado" para garantir a segurança dos hóspedes, aparato que (claro) foi todo recolhido logo após o retorno das comitivas aos seus países de origem.

E a população? Restou-lhe a imensa saudade daquela tranquilidade que, cotidianamente, não lhe é assegurada.

Uma reminiscência mais recente nos leva aos jogos Pan-Americanos: nova "maquillagem" e cifrões sem limites (depois, viu-se que houve muito mais "multiplicação" de gastos do que "soma" de benefícios, "dividindo-se" os excessos aos beneficiários de sempre e sobrando para os erários nada mais do que a simples "subtração",..).

Não nego que de um bom investimento realizado, bons espólios podemos herdar, mas não é o que se herda que me incomoda e sim a "musa inspiradora" de sua produção. Essa, sim, me deixa triste e indignado.

Sem qualquer conotação sarcástica, pergunto: por que eventos eventuais merecem melhor tratamento do que populações permanentes?

Dir-se-á que, em nossas casas, quando visitas recebemos, tudo é limpo, a comida melhora e se capricha nas roupas. Porém, quando as visitas se vão, não me consta que se deixe de dar atenção à família e nem se permita o desleixo doméstico reinar eternamente.

Será que alguma Constituição insere, em seu bojo, algum dispositivo consignando uma escala de valores diferenciados dos cidadãos das respectivas sociedades?

Sinceramente, não consigo me convencer do porquê, na "Bolsa do mundo", a cotação do visitante tem de valer bem mais do que a cotação do residente.

Por quê?

 

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