Que a educação no Brasil vai mal, sabemos. No entanto, tomar conhecimento de que um professor colou a boca de um aluno com fita adesiva, ou, assistir a vídeo no qual uma diretora de creche bate numa criança de dois anos – é assustador. Por outro lado reacende o debate inadiável sobre a formação do educador e as condições de trabalho nas salas de aula, em que diariamente professores vêm sendo agredidos por alunos, pais e mesmo por autoridades educacionais. Se a disciplina nas escolas vem se tornando desafio até para os mais experientes, fica difícil imaginar que recursos terá o docente menos preparado, em sua busca de condições propícias para o aprendizado. Recentemente o MEC anunciou projeto de corte na nota do ENEM para estabelecer desempenho mínimo a ser alcançado por quem visa profissionalização docente em nível superior. É o reconhecimento de que, para superar os desafios da escola moderna, precisamos de educadores da melhor qualidade. Medida salutar - em princípio. E digo em princípio, porque ela carece vir acompanhada de outras, tão necessárias quanto - ou veremos o tiro sair pela culatra. Isto é: em vez de melhorar a qualidade docente, tal medida poderá até afastar ainda mais os já poucos candidatos à profissão, porque tem que ser herói para querer ser professor no Brasil hoje. Não é à toa que quem busca os Cursos de Licenciatura e Pedagogia, faz tempo, é quem tem menor pontuação nas provas de acesso ao ensino superior. E por quê? Enumero: é das profissões menos valorizadas, com baixo status social; o trabalho é complexo e desgastante; a remuneração absurdamente baixa; a infraestrutura, péssima (especialmente na rede pública que atende a maioria) para citar alguns. Em contrapartida, a já altíssima responsabilidade do professor não para de crescer: a cada novo problema social detectado, outro objetivo educacional vem se somar aos existentes, os quais deverão ser atingidos no mesmo período de tempo - o que soa improvável. É como se, de um lado, as autoridades acreditassem que o professor é dotado de altíssimas capacidades (inatas, talvez, já que o treinamento para esses novos objetivos é mínimo ou inexistente) ou de algum poder mágico - tanto dele se espera: e, de outro, que para realizar trabalho de tal monta não é realmente essencial se ter profissionais otimamente capacitados, bem remunerados e permanentemente reciclados. Então, se a legítima preocupação externada pelo MEC se traduzir em apenas estabelecer uma nota mínima para entrada nos cursos, sem outras medidas em paralelo (fortalecer a autoridade do professor; melhorar a qualidade dos cursos de formação; oferecer reciclagem gratuita de conteúdo e metodologia em serviço; estabelecer metas claras a serem alcançadas pelos professores - evidentemente tendo lhes sido dadas condições para sua consecução; premiar de forma invejável os docentes com resultados excelentes, a exemplo de outros países etc.), o que provavelmente veremos suceder será o esvaziamento ainda maior da carreira. Que venham as medidas sim – mas não apenas uma. O Brasil precisa e merece. Os professores mais ainda!
Este artigo reflete, única e exclusivamente, os pontos de vista e opiniões do(s) seu(s) autor(es) e não as da Associação Brasileira de Educação - ABE que, portanto, não é responsável nem poderá ser responsabilizada pelas informações acima ou por prejuízos de qualquer natureza causados em decorrência do uso de tais informações.