Uma matéria, publicada num jornal, reportava que, desde 2008, 620 escolas americanas receberam recursos da National Math and Science Initiative, ONG criada para premiar financeiramente estudantes que tiram boas notas em provas nacionais de Ciências, Matemática e Inglês. A reportagem informava que o prêmio será estendido a mais instituições. Vale a pena pensar sobre tal ideia. O simples fato de se ter instituído esse prêmio num país desenvolvido, nos coloca diante da constatação de que, não apenas no Brasil gostar de estudar e de aprender - como já comentei aqui -, vem se tornando sério problema para pais e professores. Não se pode deixar de relacionar o fato com a supervalorização de bens materiais em detrimento de valores mais elevados na sociedade de hoje. Por que tal desinteresse? A análise não é simples. Daria para elaborar livros e mais livros a respeito, e talvez não se esgotasse o assunto, porque são muitas as variáveis que interferem na motivação para aprender. Vamos nos ater a uma apenas: Até que ponto o Brasil do século XXI incentiva jovens a valorizarem o saber? Dá para quantificar? Não é fácil, sei; porém não tenho dúvidas de que se pode perceber, sem dificuldade, que a nossa sociedade não favorece o esforço que envolve estudar para valer. O que se sente com clareza escancarada é o enaltecimento da beleza, da juventude, do bumbum durinho, incrível. Não por outra razão o Brasil se encontra no topo dos países com maior número de cirurgias para implantes de silicone. E quem é que aqui corre atrás dos nossos cientistas para obter uma foto? Talvez alguém me pergunte: Peraí, mas nós temos cientistas no Brasil? Sim, temos. Muitos e ótimos, o problema é a visibilidade (ou invisibilidade?) que têm: Nenhuma! Já quem está na telinha tem não apenas exposição constante: junto lhes atribuem também credibilidade. Sim, opinião de famosos, para muitos, é ordem! O que vestem, como usam o cabelo, a cor do esmalte tudo é copiado! Por isso se contratam mais atores e cantores como garotos-propaganda para os variados itens de consumo no lugar de quem escolheu a profissão - que praticamente nem mais existe. São as celebridades que as empresas querem para defender e vender seus produtos. Aliás, creio mesmo que os mais jovens nem ao menos saibam o que o termo significa! Como esperar que nossos filhos queiram pesquisar a cura de uma doença? “Só louco, meu” - diriam os paulistas -, e “qual é, mermão?”, se fossem cariocas a responder -, assombrados ambos com a insensatez da colunista. Como sonhar com uma sociedade em que os valores sejam o saber e a cientificidade? Como projetar a sociedade do conhecimento, se não se valoriza quem passa a vida estudando (e ganhando pouco)? O resultado começa a aparecer quando, mesmo em países desenvolvidos, se precisa inventar fórmulas que tornem desejáveis, a jovens cérebros em construção, investir esforços e suor diários para o verdadeiro progresso da humanidade. Mais triste do que isso é perceber que as soluções que o mundo vem encontrando permitem constatar outro grave problema da sociedade pós-moderna: dinheiro é a chave de tudo. Como esperar dedicação aos estudos quando tudo que se oferece às novas gerações é o vil metal, único valor apreciado?
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