Estava eu posto em sossego na Associação Brasileira de Educação (a histórica “Casa de Anísio”), último dia 25, comemorando os 91 anos da entidade e os 83 anos do famoso MANIFESTO DOS PIONEIROS DA EDUCAÇÃO NOVA, quando Raquel da Silva Gomes, nossa competente secretária, responsável por cuidar de um dos mais ricos acervos educacionais do país, pede licença para interromper a reunião a fim de entregar-me um envelope lacrado com as etiquetas “urgente”, “importante” e “confidencial”, recém-entregue por um portador que se retirou imediatamente sem se identificar.
Em natural suspense, abri-o e li a carta nele contida que nos deixou simplesmente perplexos!
Eis o seu texto.
“Caro Presidente João Pessoa
Sou paraibano como tu e desencantado com a profissão de professor, resolvi ser bandido; ou melhor: bani-me do magistério para ser ladrão. Cansado de, educando, morrer de fome, decidi, assaltando, fartar-me! Nunca matei, mas tenho furtado e roubado com a maior facilidade - e muito!
Entretanto com a proximidade das olimpíadas nessa tentadora cidade de encantos mil, resolvi procurar um conterrâneo da minha ex-área educacional para pedir-lhe um favor. E ai te achei.
O que quero de ti?
Que tu proclames às autoridades e à imprensa que, até 2016, vamos dar à população uma trégua em nossa ação bandoleira. Consegui convencer, em Assembleia Geral dos bandos cariocas, paulistas, mineiros e de mais sete Estados, deixarmos em paz o povo daqui e o povo que vem de fora, pois antes de ser bandidos, somos todos brasileiros.
Tu vais, naturalmente, perguntar-me: e até 2016 como vocês viverão? Respondo: assaltando os réus do Mensalão, os réus do Petrolão e todos os homens públicos que vêm pecando mais do que as “mulheres públicas”.
Fizemos uma relação de “cabras da peste” que infestam as casas de tolerância (perdão, eu quis dizer “casas legislativas”...), dos servidores de ministérios pecadores, de autarquias sacanas e de empreiteiras safadas. Conseguimos pegar, com a força da astúcia malandra, uma boa relação de quem vem mandando muito dinheiro (tirado dos erários) para paraísos fiscais. Para esses, reservamos um inferno pior que o de Dante: ou trazem o dinheiro para nós ou vamos colocar o nome deles em todos os muros das nossas metrópoles.
Até 2016 (terminadas as Olimpíadas), essa gente, meu caro João Pessoa, é que será o nosso único alvo.
Tu vais ver que vão acabar chamando a gente de Robin Hood do século XXI, tirando dos ricos safados para dar para os pobres como aquele inglês fazia, embora todos os que participaram daquela nossa Assembleia Geral acharam que essa de tirar de quem surrupiou é muito mais dever dos governos do que de nós, bandoleiros urbanos.
Termino por aqui, meu conterrâneo, confiando que, como paraibano de vigor sertanejo, tu vais fazer bem ecoar o que, agora, tô te pedindo.
Um arrochado abraço de quem jamais voltará a ser professor, mas sempre bom bandoleiro será.
Saudações nordestinas do teu admirador
Virgolino”
Quando acabei de ler a carta, pasmos ficamos todos nós, mas, ao mesmo tempo, aliviados pela “aposentadoria temporária” dos assaltantes que, pelo menos por um ano, “patriotas” eles serão e nós, além do alívio, muita satisfação sentimos pelo castigo pecuniário que àquelas “elites” os “bons ladrões” infringirão.

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