A qualidade do ensino, seja fundamental, médio ou superior, está relacionada com a qualidade do professor. Para garantir a excelência dos professores são necessárias políticas públicas voltadas para a formação e aperfeiçoamento desses profissionais. Especialista afirma que as políticas públicas de formação docente no Brasil estão ultrapassadas. Ele aponta que é necessário formar um novo perfil de professores cada vez mais conectados aos avanços das tecnologias de comunicação e informação.

De acordo com dados do Censo Escolar 2010, 13% dos professores do Ensino Médio do Brasil não têm formação adequada. Esse é apenas um dos gargalos relacionados ao magistério no Brasil. Outro é a baixa remuneração: o professor recebe 40% menos do que a média de outros profissionais com o mesmo nível de escolaridade, segundo o MEC.

Ao analisar a atual política pública de formação docente no Brasil, o professor Isaac Roitman, coordenador do Núcleo do Futuro da Universidade de Brasília (UnB.Futuro), afirma que essas políticas estão ultrapassadas. Segundo ele, a formação dos novos professores não pode estar baseada nos princípios atuais. "É absolutamente fundamental uma revisão nos cursos que formam professores para os estudantes do século passado. Um novo professor deve ser preparado no atual contexto em que as fontes de conhecimento são diversificadas pelos avanços das tecnologias de comunicação e informação", revela.

Nesse novo contexto, o professor não terá o papel de oferecer conhecimento, mas sim exercitar as transformações através do conhecimento. "O professor tem como tarefa principal a transferência de conhecimento, o novo professor deve ser um motivador da aprendizagem e ter competência na identificação e solução de conflitos. Ele deve estar preparado para exercitar o seu estudante na utilização do conhecimento, construindo um cenário propício para estimular a capacidade criativa, a argumentação legítima, o pensar e o cultivo de valores de relações sociais", argumenta Roitman.

O educador acredita que são atraídos para a carreira docente o segmento de baixa qualidade dos egressos do ensino médio. A razão disso, segundo ele, é o baixo salário e uma carreira sem perspectivas. "Os cursos de formação de professores para o magistério da educação básica não são considerados prioritários nas universidades tanto públicas como privadas", aponta.

Mas o professor emérito da UnB afirma que existem algumas iniciativas recentes que são interessantes. "Dentro da Política Nacional de Formação de Professores da Educação Básica, instituída em 2009, a Capes tem incentivado a formação inicial de professores e a formação continuada através de cursos de atualização e especialização. Uma outra iniciativa louvável foi a criação do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação à Docência (Pibid), que concede bolsas a estudantes de licenciatura. A implantação do Prodocência (Programa de Consolidação das Licenciaturas) também merece destaque", exemplifica.

O UnB.Futuro tem promovido uma série de debates onde, repetidamente, tem sido discutida a missão e o papel do Ensino Superior na melhoria da qualidade do ensino básico. Para o professor Roitman, além da priorização de formação contemporânea do novo professor, muito mais deve ser feito. "A comunidade universitária deveria estar mais presente nas atividades das escolas de ensino fundamental e médio, através de debates, conferências, demonstrações práticas etc., onde estudantes (de graduação e pósgraduação) e professores estariam envolvidos", sugere. Ainda segundo ele, os estudantes do ensino básico deveriam frequentar mais as universidades, em atividades estimulantes, por exemplo, nos fins de semana e no período das férias escolares.

Novo cenário - Para melhorar a formação do professor e consequentemente a qualidade do ensino, o professor Roitman afirma que em primeiro lugar está a valorização social desse profissional. "Isso significa um salário digno, sendo que a médio prazo o professor de ensino básico deveria estar no topo da carreira do servidor público. A sua missão social é tão ou mais importante que a missão dos juízes e delegados", disse.

Ainda de acordo com ele, os cursos de formação de professor devem ser permanentemente revistos e adequados, levando em conta principalmente o contexto e os progressos da tecnologia de comunicação e informação. Da mesma forma, a atualização de conteúdos e os instrumentos pedagógicos deveriam ser permanentemente atualizados. A receita para um ensino de qualidade não é complicada. "O grande desafio é a sua implantação, que depende de decisão política e continuidade.A educação de qualidade precisa ultrapassar as promessas retóricas e se transformar em realidade", aponta Roitman.

Fonte: Jornal da Ciência